quinta-feira, 26 de julho de 2012

Recomendação de Adubação PK pela Análise do Solo

INTERPRETAÇÃO DA ANÁLISE DO SOLO (10)


Com esta postagem encerramos a série "Interpretação da Análise do Solo". São 10 artigos abordando o pH do solo, argila e matéria orgânica, os cátions básicos e ácidos, a saturação de cátions, a necessidade de calagem, recomendação de corretivo para saturar parte da CTC com bases, etc. Agora chegou a vez da adubação. Vamos comentar mais sobre a utilização das tabelas de recomendação de adubação, as quais são inerentes a cada
Estado, pois a classificação dos teores de P e K são respostas das pesquisas realizadas para avaliar estes dois nutrientes no aumento da produtividade das culturas. Basicamente, cada Estado brasileiro tem a sua própria tabela de recomendação de adubação, classificando os teores de P e K em muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto, ou variações entre eles. Queremos mostrar que de posse do resultado de uma análise do solo, o passo seguinte é enquadrar os teores de P e K nas faixas de classificação pelos órgãos de pesquisa. Enquadrando os teores de P e K, a própria tabela, de acordo com a cultura, mostra a recomendação de P2O5 e K2O em kg/ha. No solo, uma pequena quantidade do fósforo total está disponível na solução do solo. Há um equilíbrio entre o fósforo adsorvido nos coloides e o fósforo da solução do solo. O fósforo do solo é avaliado através de soluções extratoras, ou seja, o P - Mehlich.1 e o fósforo remanescente, o P-rem. O fósforo remanescente é um índice da capacidade do solo de reter P. As argilas 2:1 e os óxidos de Fe e Al apresentam maior adsorção de fósforo do que uma argila 1:1. Quanto maior a retenção de P pelo solo, menor será o P-rem, como acontece nos solos argilosos.

No Estado do Paraná, a tabela para P é dividida em duas; uma para solos com menos de 360 g/kg de argila (Tabela 1) e outra para solos com mais de 360 g/kg (Tabela 2). Neste Estado, os teores de P e K são classificados em faixas e cada uma apresenta os valores de fósforo disponível e potássio. Enquadrando os teores P e K da análise na tabela, conforme o teor de argila no solo (< 360 ou > 360 g/kg), é possível obter as quantidades recomendadas de P2O5 e K2O, conforme a cultura que vai ser explorada. No Quadro 2 temos dados hipotéticos de uma análise do solo, onde demonstraremos como enquadrar os teores de P e K da análise do solo para obter a recomendação de adubação com fósforo e potássio para a cultura do milho. A cultura é o milho, no Paraná, e, para isto, vamos usar a interpretação de P e K neste estado, conforme a Tabela 1.


Pela análise, a amostra 1 possui 50 g/kg de argila, portanto muito arenoso, 8 mg/dm³ de P e 35 mg/dm³ de K ou 0,09 cmolc/dm³. O artigo     Interpretação da análise do solo - cmolc e mg/dm³          mostra como converter mg/dm³ de K em cmolc/dm³ de K. Como o solo tem menos de 360 g/kg, usaremos a Tabela 1. O fósforo que tem 8 mg/dm³ fica enquadrado na faixa média (3,1 a 9,0 mg/dm³), enquanto o K é enquadrado como baixo (igual ou menor que 10  cmolc/dm³). A recomendação de P2O5, para esta faixa média de P, é de 50 a 70 kg/ha. Para o potássio, a recomendação, na faixa baixa, é de 50 a 70 kg/ha de K2O. Cuidados devem ser observados neste solo, com baixo teor de argila, em relação ao potássio, pois as perdas por lixiviação são altas. A adubação com potássio deverá ser parcelada, aplicando-se 1/3 na base e o restante em duas coberturas, junto com o adubo nitrogenado.
A amostra 2, já apresenta um maior teor de argila, ou seja, 530 g/kg, P de 2 mg/dm³ e K igual a 0,12 cmolc/dm³. Como o solo tem mais de 360 g/kg de argila, vamos utilizar a Tabela 2. Nesta, o teor de P do solo é enquadrado na faixa baixa (igual ou menor que 2 mg/dm³), enquanto o potássio é enquadrado na faixa médio (de 0,11 a 0,30 cmolc/dm³). A recomendação é de 90 a 120 kg/ha de P2O5 e 40 a 50 kg/ha de K2O. O artigo Fórmulas similares de fertilizantes  mostra como encontrar as fórmulas similares para estas recomendações.


No Estado de Minas Gerais, a recomendação de fósforo é em função do teor de argila do solo, classificada em 4 faixas e dentro de cada faixa são estabelecidos os níveis de P. O teor de P da análise do solo deve ser enquadrado na faixa de argila (%) e na faixa de fósforo. Com isto se obtém os níveis de fósforo de muito baixo, baixo, médio, bom e muito bom. Na tabela 3, os números destacados na cor vermelha significam os níveis críticos de P e K. Quanto ao potássio, as faixas também são classificadas e devemos enquadrar nelas o teor de K da análise do solo.
Outra classificação do P é em relação ao teor de P-rem (mg/L). Em várias faixas de P-rem são apontados os níveis de P disponível. O teor de P-rem da análise é selecionado e dentro de 5 faixas estão os valores disponíveis de P (Tabela 3). Através do P-rem, podemos calcular e conhecer o Nível Crítico de Fósforo ou NiCriP. Conhecendo-se o NiCriP podemos calcular o fósforo relativo ou PR.
Segundo Saad et al (2000) o fósforo relativo é classificado em faixas para a interpretação do fósforo disponível. Para saber mais sobre P-rem, NiCriP e PR, inclusive com exercícios, existe um artigo já publicado neste blog, ou seja:
Fósforo remanescente, nível crítico e fósforo relativo


A amostra 1 do Quadro 1 apresenta 60 g/kg de argila ou 6% o que, também, caracteriza um solo bastante arenoso. Cada 10 g/kg correponde 1%. O P disponível é 7,5 mg/dm³, o P remanescente (P-rem) é de 26 mg/L e o K igual a 0,06 cmolc/dm³. Na Tabela 3, em relação ao teor de argila, o solo é considerado com teor baixo (0 a 15%). Nesta faixa de argila, o P da análise (7,5 mg/dm³) é enquadrado como muito baixo (igual ou menor que 10 mg/dm³. O potássio (0,06 cmolc/dm³), por sua vez, é enquadrado como baixo (0,05 a 0,10 cmolc/dm³). Então, temos P muito baixo e K baixo.
A amostra 2 apresenta um teor de argila de 400 mg/dm³ ou 40%, o que enquadra esta amostra na faixa de 35 a 60% de argila. Nesta faixa, o P (2,3 mg/dm³) também é caracterizado como muito baixo (igual ou menor que 4 mg/dm³). O potássio (0,13 cmolc/dm³) é avaliado como médio, na faixa de 0,11 a 0,18 cmolc/dm³. Temos, então, P muito baixo e K médio.


A recomendação para a cultura da soja é visualizada na Tabela 4 (Novais, 1999). Baseando-se nesta tabela 4, a adubação recomendada para soja seria:
Amostra 1 (Quadro 1): P muito baixo e K baixo. A recomendação de adubação seria 120 kg/ha de P2O5 e 120 kg/ha de K2O (Tabela 4). Uma relação entre os nutrientes NPK igual a  0 - 1,2 - 1,2.
Na amostra 2, com P muito baixo e K médio, a recomendação de adubação, pela Tabela 4, seria 120 kg/ha de P2O5 e 80 kg/ha de K2O. Uma relação NPK igual a  0 - 1,5 - 1


Em relação ao P-rem, a amostra 1, que possui  26,8 de P-rem, enquadrada-se entre 19 e 30 mg/L de P-rem e o fósforo disponível, nesta faixa, é enquadrado como muito baixo, igual ou menor que 8 mg/dm³.
Na amostra 2, o P-rem enquadra-se na faixa 10 a 19 mg/L e o P disponível (2,3 mg/dm³), nesta faixa, como muito baixo (igual ou menor que 6 mg/dm³).

Série "Interpretação da Análise do Solo"

O pH na análise do solo - Interpretação da análise do solo (1)
Argila e matéria orgânica na análise do solo - Interpretação da análise do solo (2)
Cátions trocáveis e as CTC's na análise do solo - Interpretaçao da análise do solo (3)
Cátions ácidos e saturação por alumínio na análise do solo - Interpretação da análise do solo (4)
Percentagem de saturação por bases (V%) na análise do solo - Interpretação da análise do solo (5)
Necessidade de calagem pela análise do solo - Interpretação da análise do solo (6)
Percentagem de saturação dos cátions básicos na análise do solo - Interpretação da análise do solo (7)
Relação Ca:Mg na análise do solo - Interpretação da análise do solo (8)
Escolha do calcário para saturar Ca e Mg na análise do solo -Interpretação da análise do solo (9)

REFERÊNCIAS

INSTITURO AGRONÔMICO DO PARANÁ (IAPAR). Sugestão de calagem e adubação para culturas de interesse econômico no Estado do Paraná. Circular Técnica 128. 08/2003. Londrina,Paraná. Disponível em:<http://www.iapar.br/arquivos/File/zip_pdf/ct_128.pdf> Acesso em: 23 de jul. 2012.

NOVAIS, R.F. de. Soja. In: Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais - 5a. aproximação. Viçosa, Minas Gerais. 1999. p. 290-291. 18.4.15

3 comentários:

  1. Olá Professor Gismonti

    Na 5ª aproximação, no capítulo 5, logo abaixo da tabela 5.3 aparece o seguinte texto:
    "Em relação à interpretação e recomendação de fósforo, é necessário
    lembrar que as classes de fertilidade, de caráter geral, apresentadas de acordo
    com o teor de argila ou com o valor de fósforo remanescente, são definidas para
    amostras que representam a fertilidade média e para culturas de ciclo curto,
    considerando todo seu ciclo vital. Considerando unicamente a fase de
    implantação, a fertilidade local do solo (lugar de transplantio ou semeadura)
    necessita ser bem maior; assim, os valores apresentados no Quadro 5.3 devem
    ser pelo menos cinco vezes maiores. Também a fertilidade média da gleba ou
    talhão, necessária para a manutenção, deve ser variável de acordo com os
    grupos de cultura: povoamentos florestais, 0,5 vezes os valores apresentados
    no Quadro 5.3; outras culturas perenes, 0,75 vezes; hortaliças, 4 vezes.
    Por outro lado, para o potássio, as classes de fertilidade para manutenção
    continuam as mesmas (Quadro 5.3) ou podem ser maiores de acordo as
    exigências das culturas e da potencialidade produtiva das lavouras".

    Gostaria que o Sr me ajudasse a interpretar este trecho.

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  2. Bom dia Professor.
    O link da Escolha do calcário para saturar Ca e Mg pela análise do solo – Interpretação da análise do solo (9), não está abrindo, está com erro.

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    1. \obrigado pela intervenção. O erro do link já foi consertado. Está disponível para acessar.

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