terça-feira, 10 de julho de 2012

Percentagem Saturação dos Cátions Básicos na Análise do Solo

Interpretação da Análise do Solo (7)



Alguns autores estipulam o nível crítico de Ca + Mg de  2,0 cmolc/dm³ ou 20 mmolc/dm³. Este valor é considerado baixo. De 2 a 4 cmolc/dm³ é médio e mais de 4,0 cmolc/dm³ é considerado alto. As amostras 1, 2 e 3, da análise hipotética que estamos utilizando como recursos para explicar a "Interpretação da Análise do Solo", mostram os seguintes valores de Ca
+ Mg:
Amostra 1 - 8,2 cmolc/dm³.
Amostra 2 - 1,67 cmolc/dm³.
Amostra 3 - 0,77 cmolc/dm³
Apenas a amostra 1 estaria enquadrada no nível "alto". As amostras 1 e 2 apresentam valores "baixo" de Ca+Mg.
Considera-se um solo de boa fertilidade aquele que apresenta as seguintes saturações (%) de cátions básicos:
Saturação de Ca % - 50 a 70; Saturação de Mg % - 10 a 20; Saturação de K %  -  2 a 5
Na literatura, podemos encontrar outras tabelas com amplitudes diferentes, quanto à saturação de bases trocáveis. Desta maneira, vale levar em consideração a tabela recomendada para cada região, pois os nutrientes foram pesquisados, e a calibração atende condições de solo, clima, temperatura, etc, de cada local.
Para se achar a saturação é necessário saber o teor de cada cátion básico trocável no solo e a CTC a pH7,0 (T). No Quadro 1 já estão calculadas as percentagens de cada base trocável e a CTC a pH7,0. No artigo "Cátions trocáveis a as CTC's na análise do solo" calculamos as CTC efetiva (t) e a pH7,0 (T) que o leitor poderá visualizar, clicando no link abaixo:
Cátions trocáveis a as CTC's na análise do solo - Interpretação da análise do solo (3)

A fórmula para cálculo da saturação de Ca²+, Mg²+ e K+ é a seguinte:
Saturação do cátion (%) = (100 x teor do cátion) / T

Devido à extensão dos cálculos nas três amostras, o que tornaria este artigo muito longo, no Quadro 2 apresentamos uma síntese do resultado alcançado com as saturações de cada cátion em cada amostra, com a fórmula calculada.


No artigo "Necessidade de Calagem pela Análise do Solo" foi calculada a necessidade de calagem (NC) para as três amostras.
A calagem adiciona Ca + Mg quando se utiliza um calcário magnesiano ou dolomítico ou Ca quando o calcário é calcítico. Utiliza-se uma regra para saber quanto de Ca e Mg é adicionado pelo calcário, ou seja, "para cada 1% de CaO", numa tonelada de calcário, multiplicando por 0,01783 obtemos cmolc/dm³ Ca; multiplicando % MgO por 0,0248 obtemos cmolc/dm³ Mg. Um calcário com 36% de CaO e 12% de MgO adicionaria ao solo as seguintes quantidades de Ca+Mg:
36% CaO x 0,01783 = 0,64 cmolc/dm³ Ca²+
12% MgO x 0,0248 = 0,29 cmolc/dm³ Mg²+
Para saber como se chegou a estes índices leia o artigo a seguir:
Fatores a considerar na escolha do calcário 

Nos cálculos que serão feitos, abaixo, usaremos um calcário calcítico com 55% de CaO, um magnesiano com 32% CaO e 6% de MgO e um calcário dolomítico com 38% de CaO e 12% de MgO e todos com um PRNT de 77%. Para elevar a saturação de potássio, usaremos o cloreto de potássio com 60% de K2O.
Como os calcários que vamos usar não têm PRNT de 100%, pois as recomendações de calagem são feitas para um produto que apresente este PRNT, precisamos fazer a correção da quantidade:
f = 100/PRNT;  f = 100/77;  f = 1,3. Então, as quantidades de calcário recomendadas, nas três amostras, devem ser multiplicadas por 1,30, pois o PRNT dos calcários que vão ser usados é 77%.

AMOSTRA 1:
Saturação de Ca = 45,18%
Saturação de Mg = 16,56%
Saturação de K = 0,60%
NC = 1,0 t/ha (PRNT 100%)  para elevar V2 = 70%
Correção da quantidade: NC = 1 x 1,3; NC = 1,3 t/ha de calcário
Nesta amostra 1 apenas a saturação de Mg está dentro da faixa ideal (10 a 20%). A adição de calcário calcítico com 55% de CaO adicionará cálcio para elevar o teor em 50 a 70% de saturação. O potássio (K+) é o mais baixo e será necessário uma adubação corretiva de potássio para elevar a saturação deste nutriente.
55% CaO x 0,01783 = 0,98 cmolc/dm³ Ca²+ por tonelada de calcário
1,3 t/ha x 0,98 = 1,27 cmolc/dm³ Ca²+ que serão adicionados.
O solo já possuía 6,0 cmolc/dm³ Ca²+ e mais 1,27 adicionado, dão um total de 7,27 cmolc/dm³.
Saturação de Ca = 100 x 7,27 / 13,89
Saturação Ca = 52,33%
Teoricamente, enquadra-se na faixa ideal de Ca (50 a 70%).
O Mg já está na faixa ideal, por isto que usamos um calcítico.
O potássio está muito baixo. Vamos elevar a concentração do K+ para 5% da CTC a pH7,0 cujo valor é 13,28 cmolc/dm³
13,28 x 5% = 0,66 cmolc/dm³ K+. O solo possui 0,08 cmolc/dm³ K+. Há uma deficiência de 0,58 cmolc/dm³ K+. Multiplicando cmolc/dm³ K+ por 391 obtemos mg/dm³ K.
0,58 x 391 = 227 mg/dm³ K; mg/dm³ x 2 = kg/ha; 227 mg/dm³ K x 2 = 454 kg/ha K.
K x 1,20 = K2O; 454 kg/ha K x 1,20 = 545 kg/ha K2O

Nota: Por que se multiplica K por 1,20?
A análise do solo nos dá a quantidade de potássio (K) no solo. As recomendações de K, bem como a garantia do K nos adubos é expressa em óxido de potássio (K2O). Por isto se multiplica por 1,2 que é a conversão do K em K2O.
Em K2O  temos K2
(2x39)+16 temos 2x39
em 94 temos 78
Então 94 / 78 = 1,2 (para transformar K em K2O)
Para transformar K2O em K 
78/94 = 0,829

Em 100 kg cloreto potássio temos .......   60 kg K2O
Em  X  kg Cloreto de potássio .............. 545 kg/ha K2O
X = (545 x 100) / 60;  X = 57000/60 = 908 kg/ha de cloreto de potássio. A dose é elevada devido o baixo teor de K+ no solo. Ou adotamos uma corretiva gradual de potássio em dois anos, ou baixamos para 3% a saturação da CTC com K+Assim mesmo, a quantidade será elevada, ou seja, 650 kg/ha de cloreto de potássio, mas não fugimos de uma correção gradual de K+.

AMOSTRA 2:
Saturação de Ca = 19,11%
Saturação de Mg = 11,87%
Saturação de K = 0,19%
NC = 2,1 t/ha (PRNT 100%) para elevar a saturação por bases V2 = 70%
O solo da amostra 2 está longe da saturação ideal de Ca²+ e K+, e podemos aumentar a saturação de Mg.. A adição de um calcário magnesiano com 32% CaO e 6% deMgO será necessário para elevar a saturação de Ca²+ e Mg², bem como aplicação de cloreto de potássio para elevar a saturação de K+ na CTC a pH7,0. Solos com menos de 0,8 cmolc/dm³ devem receber calcário na forma dolomítico ou magnesiano.
Correção da quantidade de calcário: 2,1 x 1,3 = 2,73 t/ha
32% CaO x 0,01783 = 0,57 cmolc/dm³ Ca²+
2,73 t/ha x 0,57 = 1,55 cmolc/dm³ Ca²+
O solo já possuía 1,03 cmolc/dm³ Ca²+ mais 1,55 adicionado, dão um total de 2,58.
Saturação de Ca = 100 x 2,58 / 5,39;  Saturação Ca = 48%
A saturação de Ca aumentou 152%.
6% MgO x 0,0248= 0,15 cmolc/dm³ Mg²+;  2,73 t/ha x 0,15 = 0,40 cmolc/dm³ Mg
O solo já possuía 0,64 cmolc/dm³ Mg²+ mais 0,40 adicionado, dão um total de 1,04 cmolc/dm³ Mg²+.
Saturação de Mg = 100 x 1,04 / 5,39; Saturação Mg = 19%
Quanto ao K buscaremos elevar o teor usando uma concentração de K+ de 5% da CTC a pH7,0 cujo valor é 5,39 cmolc/dm³. Este cálculo segue o mesmo raciocínio daquele feito na amostra 1. O solo possui 0,01 cmolc/dm³ K+  A quantidade de cloreto de potássio (KCl) será de 400 kg/ha, e na saturação de 4% da CTC com potássio, a quantidade de KCl será de 320 kg/ha.

AMOSTRA 3:
Saturação de Ca = 7,56%
Saturação de Mg = 1,40%
Saturação de K = 1,40%
NC = 4,0 t/ha (PRNT 100%)
Na amostra 3, o solo está longe das condições ideais de saturação dos cátions básicos. Este solo precisará de uma quantidade apreciável de calcário dolomítico (38% CaO e 12% MgO) para adicionar cálcio e magnésio para elevar a percentagem de saturação destes dois cátions. A recomendação de uma adubação corretiva com potássio será necessária para elevar a percentagem deste cátion na CTC do solo.
Correção da quantidade de calcário: 4,0 x 1,3 = 5,2 t/ha
38% CaO x 0,01783 = 0,67 cmolc/dm³ Ca²+
0,67 t/ha x 5,2 t/ha = 3,48 cmolc/dm³ Ca²+
O solo já possuía 0,65 cmolc/dm³ Ca²+ mais 3,48 adicionado, dão um total de 4,13.
Saturação de Ca = 100 x 4,13/ 8,59; Saturação Ca = 48%
A saturação de Ca aumentou 534%.
12% MgO x 0,0248= 0,29 cmolc/dm³ Mg²+;  5,2 t/ha x 0,29 = 1,50 cmolc/dm³ Mg
O solo já possuía 0,12 cmolc/dm³ Mg²+ mais 1,50 adicionado, dão um total de 1,62 cmolc/dm³ Mg²+.
Saturação de Mg = 100 x 1,62/ 8,59; Saturação Mg = 18%
Este solo, textura arenosa, precisa de um manejo adequado, pois deve apresentar perdas de cálcio e potássio por lixiviação. Além da alta toxidez de alumínio que este solo apresenta, o que torna mais necessária a calagem do solo. Este solo precisa de um monitoramento mais seguido através de novas análises de solo, bem como a adubação com nitrogênio e potássio, em adubações parceladas em cobertura. Esta amostra 3 ficará a cargo do leitor, É só seguir o raciocínio das amostras 1 e 2. Não esqueça de corrigir a quantidade de calcário. A melhor opção, para este tipo de solo, é saturar a CTC com 3% de K+, o que dará uma quantidade de 215 kg/ha de cloreto de potássio.
Existe uma comparação da saturação de cátions em relação a CTC a pH 7,0 na saturação por bases V%.


LEIA: Outros artigos da série Interpretação da Análise do Solo
Argila e matéria orgânica na análise do solo - Interpretação da análise do solo (2)
Cátions trocáveis e CTC's na análise do solo - Interpretação da análise do solo (3)
Cátions ácidos e saturação por alumínio - Interpretação da análise do solo (4)
Percentagem de saturação por bases (V%) na análise do solo - Interpretação da análise do solo (5)
Necessidade de Calagem pela Análise do Solo - Interpretação da análise do Solo (6)

REFERÊNCIAS

ALVAREZ V, V.H.; RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais - 5a. aproximação. 1999. Viçosa, Minas Gerais. Disponível em:<http://pt.scribd.com/doc/58701933/5%C2%AA-Aproximacao-Manual-de-Adubacoes-PDF> Acesso em: 13 de jun. 2012.

LOPES, A.S.; GUILHERME, L.R.G. Interpretação da Análise do Solo - Conceitos e aplicações. ANDA, São Paulo.ed. atual. 2004. 51p. Boletim Técnico No 2.

VITTI, G.C. Nutrição e Adubação de Cana-de-Açúcar. In: III Simpósio de Tecnologia de Produção de Cana-de-Açúcar. ESALQ - USP. São Paulo. 2007. Disponível em: <http://www.malavolta.com.br/pdf/730.pdf >  Acesso em: 26 jun. 2012.

4 comentários:

  1. NC=(70% -56%) x 4,11 x 1,25/100 = 0,719
    0,719 x 1,3(FC)= 0,94 aprox. 1ton/ha

    relação Ca/Mg =1,9
    Calculo referente a exemplo amostra 1:
    calcario calcitico 40% Ca/ 2% Mg
    40 x 1 ton/ha x 0,018= 0,72cmol/dm3 Ca
    Teor de Ca no solo= 16,33 mmol/dm3 /10= 1,63 cmol/dm3

    0,72 + 1,63= 2,35cmol/dm3
    Saturaçao Ca 100 x 2,35 /13,89 = 16,92%

    O calculo está correto
    esse valor de 13,89 é tabelado? referente ao ph 7?
    Como faço para equilibrar essa relação entre Ca/Mg

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    1. Reveja o seu cálculo,pois corrigiu duas vezes a quantidade de calcário. O valor 13,89 foi digitado errado. O certo é o valor 13,28 que é o valor da CTC a pH7. O cálculo da CTC depende da quantidade de cátions básicos
      CTC a pH 7 = Ca+Mg+K+(H+Al)

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  2. Porque na hora de calcular a qtde de K a ser aplicada, multiplicou-se por 1,2? (amostra 1 : 454 x1,2 ?)

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    1. A análise do solo nos dá a quantidade de potássio (K) no solo. As recomendações de K bem como a garantia do K nos adubos é expressa em óxido de potássio (K2O). Por isto se multiplica por 1,2 que é a conversão do K em K2O.
      Em K2O temos K2
      (2x39)+16 temos 2x39
      em 94 temos 78
      Então 94 / 78 = 1,2 (para transformar K em K2O

      Para transformar K2O em K
      78/94 = 0,829

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